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Teofilo Santiago, inspector da PJ reformou-se
Li algures, que o «Apito Dourado» foi o processo com o qual
diz que perdeu a inocência.
TS_É verdade. Nunca me passou pela cabeça… Sempre transmiti às
pessoas que estavam comigo para que não se preocupassem. Que era impensável que
alguém nos pudesse querer fazer o que quer que seja, porque nem se atreveriam a
tal. E olhe, as circunstâncias falam por si… O sermos despedidos se calhar foi
o menos… O que se passou foi feio, foi das coisas mais feias… Nem consigo
encontrar um adjectivo para qualificar o procedimento ou o processo que levou à
nossa saída.
DN-Responsabilidade apenas da hierarquia de então?
TS_Também teve a ver. Mas, como foi dito, por vontade do poder
político. Depois vem por aí abaixo.
DN-Foi o poder do futebol? Não tinha a noção desse poder?
TS_Tínhamos. Mas o problema ali não foi o futebol. Foram as
implicações de pessoas que estariam ligadas aos vários poderes, nomeadamente ao
político, em tudo aquilo. E a necessidade enorme que alguns responsáveis tinham
em saber o que é que se passava na investigação. Até aí, o poder político, pelo
menos que eu me apercebesse, independentemente de pessoas mais ou menos próximas
serem tocadas, nunca tinha ultrapassado aquela linha. Aqui não! Ultrapassou-se
tudo. Disseram-me claramente, «até às tantas horas, tem que se saber quem são
as pessoas e o grau de envolvimento». Eu ri-me.
DN_Conta-se que na lista das buscas colocou alguns nomes no
fim para que ninguém se apercebesse. Isso é uma história ou foi verdade?
TS-Não foi assim. Nem tive um peso tão grande na investigação
do «Apito Dourado» como tive noutras. Tinha as equipas de vigilância comigo e a
partir da morte do Fehér há uma situação particular na investigação que dá o
salto e aí é que, juntamente com os outros elementos da direcção, tivemos que
tomar uma opção de estratégia a seguir. E a opção foi não comunicar à
hierarquia o que se estava a passar. Se nós cumpríssemos com esse dever de
lealdade que nos era exigido, então o director nacional da PJ teria também que
ter o mesmo dever para com a ministra da Justiça e lá ia tudo, como sói
dizer-se em linguagem policial, com os ciganos. Mas nunca me passou pela cabeça
o que se seguiu… Quer dizer … pressentia-se qualquer coisa, mas aquilo?! A
grande vítima foi o Dr. Artur Oliveira.
DN-A história do pai e do irmão serem investigados em Coimbra
por burla na Caixa Agrícola?
TS_Investigados?! Um processo que já estava mais do que
encerrado, ressuscitou-se, fazem-se buscas com aparato e tudo mais para
justificar o que iam fazer!!! Não se faz!
DN-Ele, director, demitiu-se. Vocês, adjuntos,
solidarizaram-se… Esperava ser reconduzido? Não acha que foi de alguma
ingenuidade?
TS_Rejo-me por princípios. Perdi a inocência nesta coisa
porque apesar de já ter muita experiência disto há limites. Adivinhava o que se
estava a passar, ele não era o alvo. Por isso é mais lamentável ainda o que lhe
foi feito. Houve pessoas, n pessoas, que me disseram «não ponha o lugar à
disposição, não faça isso, obrigue-os a ser eles a tomar a atitude». Mas por
uma questão de ficar bem comigo… Tenho três regras, a Constituição, as leis e a
ética.
DN-Os alvos eram vocês os dois, você e o João Massano?
TS_Éramos. A partir daí…
DN-E a causa era o «Apito Dourado»?
TS_A causa não era o «Apito Dourado», eram os poderes
entenderem que não podia haver uns cidadãos, embora com responsabilidades
policiais, que não lhes respondessem àquilo que eles queriam saber.
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