segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Em busca da retrete


As necessidades fisiológicas deverão ser dos assuntos mais melindrosos que se possam discutir. O que a gente sabe é que apesar das revistas cor de rosa não o mencionarem, a Scarlett Johansson peida-se, o Di Caprio deve-se ter borrado todo antes de ir receber o Óscar e o Brad Pitt pode testemunhar o cheiro que vem da casa de banho após uma ida da Angelina.

É embaraçoso, é incómodo, mas acontece como passo a relatar: Moro numa casa com mais dois gajos, cada um no seu próprio quarto. Não passo muito tempo em casa e na realidade nem lá durmo muitas vezes, mas uma vez por outra lá me desloco a ver se os meus pertences estão intactos. Acontece que no horário a que lá vou, não deveria estar ninguém em casa e à falta de sinais que indiquem o contrário a casa é toda para mim, o que significa que posso mijar de porta aberta à vontade. N a realidade, dessa vez nem o fiz, limitei-me a lavar as mãos virar-me para a sanita só para deitar lá o papel que usei para as secar e puxar o autoclismo. Nisto aparece-me pela porta a namorada de um dos rapazes, que não se apercebeu que eu estava em casa nem eu tinha dado conta dela. Embaraçada por achar que me tinha apanhado com coisas de fora, lá fugiu para o quarto. Eu despedi-me do papel que tinha deitado na sanita e ao sair gritei que ela podia ir, o trono estava livre.
  
Ela não foi logo, mas dei conta dela ter fechado a porta do wc quase uma hora depois. O tempo passou, e eu entretido no computador, a comer pizza e a beber cerveja enquanto a chuva caía do lado de fora até que chegou a hora de utilizar as instalações sanitárias outra vez. Sempre tive nojo de sanitas públicas e a sanita comum lá de casa é como se fosse uma sanita pública, só que o público é menor. Obviamente inspeciono a dita e noto umas porcarias lá no fundo, naquela altura nada de mais (a ignorância é de facto uma bênção) e uma simples descarga do autoclismo transformaria o trono usável até pelo Melvin Udall. 

O Jerry Seinfeld tinha uma piada acerca dos maiores medos das pessoas em que dizia que a coisa que as pessoas mais receavam era fazer discursos públicos, sendo que a morte surgia em segundo lugar nos receios mais comuns das pessoas (E assim, num funeral, as pessoas prefeririam estar dentro do caixão do que a fazer o discurso fúnebre). Não tenho base científica para o afirmar, mas aposto que o medo da água da sanita sair por cima em vez de ir pelo sifão deve estar no top 10. E ali estava eu, a ver o nível da água a subir, paralisado, a suar por todos os poros e a pedir por tudo o que é sagrado que aquilo não transbordasse, o que, felizmente, não chegou a acontecer.

Por vezes há coisas que são inadiáveis, mas esse não era o caso. Resolvi esperar por condições mais favoráveis e enquanto estava no meu canto apercebi-me duma movimentação entre um quarto e a casa de banho cuja frequência seria passível da implementação de um pórtico no corredor para a geringonça do Costa ganhar dinheiro a cobrar portagem. Nisto fez-se tarde e próximo da hora que eu ia sair voltei à casa de banho na esperança de que tudo já estivesse resolvido e pronto a utilizar. A tampa da sanita estava fechada, o que não era normal mas não deveria ter algum significado de maior, só que tinha. O meu método era puxar o autoclismo outra vez e ver se a retrete ia encher novamente ou se o esgoto ia ser o paradeiro final da descarga. Nem cheguei a esse ponto. Ao levantar a tampa da sanita, pedaços de coisas boiavam a um nível bastante alto e a que me escuso de fazer uma descrição mais pormenorizada porque já basta um traumatizado. É nestas horas que as palavras do Artur Albarran fazem mais sentido.

A rapariga não tem um metro e sessenta, não pesa mais duns 45 Kg. 



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