Tudo Bons Rapazes
José Guilherme, o homem que ofereceu 14 milhões a Ricardo
Salgado, está a ser investigado num processo relacionado com o Montepio Geral,
que lhe terá emprestado 17 milhões de euros há cerca de um ano com base em
garantias do Finibanco Angola, que é maioritariamente detido pelo próprio
Montepio.
Ao mesmo tempo, o seu filho
possui uma participação indirecta no Montepio, que foi financiada no final de
2013 pelo Finibanco Angola – mais uma família que é ao mesmo tempo devedora e
accionista de um banco. José Guilherme e Ricardo Salgado foram alvo de investigações
por branqueamento de capitais no decorrer da Operação Monte Branco, e terão
sido escutas relacionadas com esse processo que acabaram por dar origem à
Operação Marquês, pela qual José Sócrates está detido.
Paulo
Lalanda e Castro, o homem que deu emprego a José Sócrates na Octapharma, tem o
seu nome envolvido em três processos judiciais: a Operação Marquês, devido à
sua relação com Sócrates e com o grupo Lena, com o qual estabeleceu contratos
de assistência técnica na construção de hospitais na Argélia; a Operação
Labirinto, relacionada com vistos gold atribuídos à boleia de contratos de
prestação de saúde acordados com o estado líbio; e a operação brasileira que
ficou conhecida como Máfia dos Vampiros, onde a Octapharma e Paulo Lalanda e
Castro foram investigados por manipulação nas vendas de hemoderivados ao
Ministério da Saúde brasileiro. Em Portugal, a questão dos hemoderivados foi
alvo de uma recente investigação da TVI, que comprovou que a maior parte do
plasma português recolhido através da doação de sangue é deitado fora, para
depois ser comprado à Octapharma, num negócio que já chegou a atingir 70
milhões de euros/ano.
Armando
Vara, ex-secretário de Estado, ex-ministro do PS, ex-administrador da CGD
e ex-vice-presidente do BCP, condenado em primeira instância por tráfico
de influências no processo Face Oculta, foi recentemente detido no âmbito do
Processo Marquês. A sua detenção está relacionada com um empreendimento em Vale
do Lobo, cuja compra terá facilitado enquanto administrador da CGD, num negócio
que se revelou ruinoso para a Caixa: a dívida em 2014 ascendia aos 360 milhões
de euros. O empreendimento de Vale do Lobo foi comprado por um consórcio
liderado por Hélder Bataglia, Luís Horta e Costa e Pedro Ferreira Neto,
homens-fortes da Escom, detida pelo Grupo Espírito Santo, e antigos arguidos no
caso dos submarinos.
Armando
Vara, após a sua saída do BCP, foi liderar a empresa Camargo Corrêa em
África. A construtora brasileira comprou a Cimpor em 2012, tendo convidado
Proença de Carvalho para chairman. Entre 2010 e 2014,
Armando Vara foi administrador da Camargo Corrêa, numa época em que a
empresa era liderada por Dalton Avancini. Avancini foi condenado há duas
semanas por corrupção, lavagem de dinheiro e operação criminosa, no decorrer da
Operação Lava Jato, que já começou a investigar o próprio Lula da Silva. Um dos
delatores do processo garantiu que parte do dinheiro do esquema de corrupção
era lavado via BES. A Lava Jato envolve outras grandes construtoras
brasileiras, a mais destacada das quais é a Odebrecht, que juntamente com o
grupo Lena foi vencedora do consórcio do TGV que deveria fazer a ligação
Poceirão-Caia. A Odebrecht pagou várias viagens internacionais a Lula da Silva.
Entre essas viagens, inclui-se a sua vinda a Portugal a 23 de Outubro de 2013,
para apresentar o livro de José Sócrates, A Confiança no Mundo.
João Miguel Tavares no Público
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