quarta-feira, 8 de julho de 2009

A história do rapaz que se chamava Susana*


O meu pai saiu de casa quando eu tinha três anos, e não deixou muito para a minha mãe e para mim. Só esta velha guitarra e uma garrafa de whisky vazia. Eu não o culpo por ter fugido e se ter escondido, mas a pior coisa ele alguma vez pôde ter feito, foi, antes de nos abandonar, ter-me dado o nome de Susana.

Ele deve ter pensado que era uma grande piada e, realmente, muita gente gozou muito comigo. Parecia que eu ia ter de lutar a minha vida inteira. Alguém sorria e eu até ficava vermelho de raiva, alguém ria e a minha vontade era arrancar-lhe a cabeça. Digo-vos, a vida não é fácil para um rapaz chamado Susana.

Bem, eu tive de crescer rápido e cresci mau, o meu punho ficou forte e fiquei com uma perspicácia aguçada, e teria de andar de cidade em cidade para esconder a minha vergonha. Mas então fiz uma promessa à lua e às estrelas, de que iria procurar em tabernas e bares e matar aquele homem que me deu este nome horrível.

E assim, estava numa cidade qualquer, tinha acabado de chegar e a minha garganta estava seca, e pensei em parar para beber uma cerveja. E num velho bar num caminho de lama, numa mesa, todo lambão a dar cartas, estava sentado o cabrão que me chamou de Susana.

Eu sabia que aquela cobra era o meu querido pai de uma fotografia que a minha mãe tinha. Eu conhecia aquela cicatriz na cara e os seus olhos maléficos. Ele era grande e velho, eu olhei para ele, o sangue nas veias começou a ficar frio, e disse-lhe: o meu nome é Susana! Como estás?! Agora vais morrer!

E bati-lhe com força mesmo entre os olhos. Ele caiu, mas para minha surpresa levantou-se com uma faca e cortou um bocado da minha orelha. Eu atirei-lhe uma cadeira aos dentes, atravessámos a parede e caímos na estrada a lutar na lama, numa poça de sangue e cerveja.

Posso dizer que já defrontei homens mais duros, mas nem me lembro bem quando. Ele dava coices como uma mula e mordia como um crocodilo. E eu ouvi-o rir e depois tossir. Ele ia sacar da pistola, mas eu peguei na minha primeiro e ele ficou parado a olhar para mim e sorriu.

E disse-me: “Filho, este mundo é difícil. Para um homem sobreviver tem de ser duro, e eu sabia que não ia estar lá para te ajudar. Então dei-te esse nome e disse adeus. Eu sabia que tinhas de te tornar forte ou não irias durar muito, e foi esse nome que te ajudou a tornares-te o que és hoje.

E continuou: “acabaste de travar uma grande luta. Eu sei que me odeias. Tens o direito de me matares agora, e eu não te censuro se o fizeres. Mas tens de me agradecer, antes de eu morrer, pela dureza e a raiva nos teus olhos, porque, afinal de contas, fui eu o filho da puta que te deu o nome de Susana.

Fiquei abalado e atirei a minha arma para o chão. Chamei-o de Pai, e ele chamou-me seu filho. E eu vim embora a ver as coisas de maneira totalmente diferente. Penso nele, às vezes, sempre que tento fazer alguma coisa e tenho sucesso.

E se eu alguma vez tiver um filho, acho que lhe vou dar o nome de… Manuel ou António! Qualquer coisa menos Susana! Continuo a odiar esse nome!

.*a boy named sue , johnny cash - tradução (muito) livre

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